Alô.
2020 pode ter marcado o adiamento, ou mesmo o cancelamento de inúmeros lançamentos do cinema, teatro, e até música. Enquanto plateias não devem se aglomerar para tais experiências, bandas remarcam turnês e grandes estúdios tentam achar uma saída segurando seus maiores filmes ou enviando-os diretamente para streaming sob uma chuva de opiniões variadas.
Embora o mercado editorial com certeza tenha enfrentado problemas e ameaças, vindos do vírus ou de algum ministério do nosso governo, o hábito da leitura em si seguiu inofensivo, já que o melhor lugar para se fazê-lo é em casa, na sua poltrona favorita. Foi nela que li “Ogiva”, resultado de quatro anos de trabalho duro de Bruno Zago (roteiro) e Guilherme Petreca (arte), lançado em Dezembro de 2020 pelo selo Original Pipoca & Nanquim.
Vamos falar deste novo título do cenário nacional? O texto abaixo é o mais livre de spoilers possível.
Tá, e o que é “Ogiva”?
Situada em um futuro distópico onde monstros invadiram o nosso planeta e destruíram a humanidade como conhecemos, a história acompanha Pilar, uma mulher que assumiu a responsabilidade pela pequena Sara depois que a garota perdeu a família em um incidente envolvendo os misteriosos e agora dominantes seres de outro plano.
Circunstâncias da vida inóspita dessa nova realidade acabam por separar a dupla, expondo Pilar a perigos que nem sempre vem dos monstros e a forçando a interagir com diferentes tipos de pessoas, grupos e organizações enquanto tenta reencontrar a criança.

E por que eu gosto?
Quem conhece o autor, sabe de suas origens simples no interior do estado de São Paulo. A paixão pelos quadrinhos adquirida ainda na infância e a influência de obras como “Um Lugar Silencioso” e “The Last of Us” são temperadas com sua visão de mundo e criam uma obra que possui uma narrativa simples, que pode ser aproveitada por todas as idades e gostos.
A explicação para a origem dos monstros, bem como a exploração de conceitos tecnológicos e hipóteses das influências mercadológicas internacionais em um cenário desses trazem pequenas e únicas características interessantes ao universo de Ogiva.
Pessoalmente, eu apenas penso que a trama seria mais imersiva se tais itens fossem adicionadas à história através de mais diálogos ou cenários, ao invés de serem citadas em textos colocados no fim do gibi. Tomar conhecimento de tais particularidades ao longo da aventura seria mais empolgante. Também senti falta de uma caracterização mais claramente brasileira nos ambientes, tendo em vista o quanto as origens do autor e até mesmo a personalidade dos personagens exalam características, frases e comportamentos que qualquer família clássica do Brasil dos anos 1990 possui. É nítido e bastante aconchegante observar tais elementos no convívio do casal Ramiro e Leila, por exemplo. Sem dúvidas, o ponto alto da obra é a interação do grupo principal.
Apesar destes pequenos pontos, Ogiva cumpre a promessa e apresenta uma jornada divertida, que entrega climas variados e emocionantes com personagens que nos fazem sentir-se em casa. A arte do premiado Guilherme Petreca possui profundidade e dá vida ao universo criado por Zago, transitando com competência entre cenas mais singelas e minimalistas até grandes perseguições de carro e monstros gigantes no meio das rodovias. A grande mochila em forma de urso que por vezes ocupa o primeiro plano em quadrinhos silenciosos sempre traz uma inexplicável expressão que nos faz parar e refletir sobre aquele mundo, nas pessoas que ali estão e em como faríamos para nos virar em tais situações. São alguns dos momentos onde você mais se preocupa e se importa com os personagens.
Embora não se trate de um marco dos quadrinhos mundiais, tal título nunca foi visado e nem deveria, tendo em vista que a obra se trata do primeiro roteiro de Bruno, que com certeza começou com o pé direito. Agora fica a expectativa pelo próximo trabalho do roteirista.
Por fim, quando se trata de Pipoca & Nanquim, a qualidade de impressão e acabamento são sempre inquestionáveis e desta vez não foi diferente. As 220 páginas são impressas em papel de alta gramatura dentro de uma capa dura com verniz localizado e lombada redonda.
“Ogiva” pode ser encontrado no site da Amazon por R$79,90. Até o momento da postagem, as edições que acompanham bookplate grátis assinados por Zago e Petreca ainda estão em estoque. Também disponível no formato kindle.
E para quem curte acompanhar processos artísticos, o canal do Pipoca & Nanquim no Youtube possui uma extensa série onde Bruno, Guilherme e todos os outros envolvidos no projeto comentam as etapas da criação da HQ em detalhes.
E aí, parece legal, né? Se interessou, ou já leu “Ogiva”? Conta aí pra gente!

Bom, eu sou suspeita, simplesmente adorei Ogiva e não tenho nem palavras para descrever a perfeição e a qualidade gráfica da HQ. Excelente texto!
Boa, não sabia da existência desse quadrinho, com certeza irei colocar na minha lista para ler.