Alô.
Se a internet diz que um filme é bom, costuma-se creditar quem dirigiu. Se ela diz que um filme é ruim… costuma-se criticar quem dirigiu. Mas até onde isso é justo? Com cada vez mais raras e majoritariamente septuagenárias exceções, diretores não passam de funcionários encarregados de entregar um produto cada vez mais enlatado já pensado para gerar… lucro.
Sem inconformidades ou discursos sobre a valorização da arte pelo mercado, eu resolvi reunir cinco situações onde a intervenção do estúdio causou (ou quase causou) alguma alteração de certa forma significativa na versão final do filme. Muitas vezes, o resultado nem é ruim, mas alguns conceitos listados abaixo certamente poderiam ter sido muito melhor explorados, se não fossem os bastards with the money, como diria Guillermo del Toro.
Se7en (1995)

O segundo longa comandado por David Fincher só teve o final que conhecemos devido a briga que o diretor comprou contra a New Line.
Uma das cenas mais icônicas da história do cinema (“What’s in the boooox?!”) foi a principal razão pela qual Fincher topou realizar a produção após prometer a si mesmo que não trabalharia em Hollywood novamente depois da experiência negativa em Alien 3 (adivinhem causada por quem). Entretanto, o estúdio mudou de ideia no meio do caminho por considerar o desfecho pesado demais e apresentou não uma ou duas, mas seis alternativas mais brandas e felizes, determinando que a equipe criativa deveria selecionar uma delas para trabalhar.
Traumatizado pela experiência anterior, Fincher se recusou a continuar no projeto caso o final original não fosse mantido. Seus apelos deram resultado quando os astros Morgan Freeman e Brad Pitt tomaram seu lado na discussão.
Matrix (1999)

É de conhecimento geral que Matrix é um dos títulos mais influentes não só da história do cinema de ação, mas da sétima arte como um todo. Fortemente influenciado por obras como Ghost in the Shell (1995) e O Mundo Por Um Fio (1973), o longa definiu novos padrões para os filmes de ficção científica a partir dali. Entretanto, um detalhe que poderia ter adicionado ainda mais riqueza e profundidade à obra foi vetado pela Warner Bros.
Switch, a personagem de Belinda McClory, seria interpretada por duas pessoas.
Originalmente pensada para ser um homem no mundo real e uma mulher dentro da Matrix, Switch não só faria jus ao seu nome, como diria muito sobre as diretoras Lana e Lilly Wachowski, que finalizaram suas transições de gênero em 2008 e 2016, respectivamente.
O conceito também conversa muito com Os Invisíveis, do quadrinista escocês Grant Morrison, uma das principais referências visuais para Matrix, e que também aborda questões de minorias como marginalização e preconceito.
O Exorcista III (1990)

O maior filme de horror de todos os tempos gerou algumas continuações no cinema e até mesmo uma série de TV. Não surpreendentemente motivado por faturamento, O Exorcista 2: O Herege chegou aos cinemas em 1978 e não possui envolvimento de William Friedkin ou William Peter Blatty, respectivamente diretor e roteirista/escritor do livro que originou clássico de 1973.
Considerado por muitos a pior continuação da história de Hollywood, mesmo sendo dirigido pelo cinco vezes indicado ao Oscar John Boorman e contando com um elenco estelar composto por Richard Burton, Louise Fletcher, Max Von Sydow e James Earl Jones, O Exorcista 2: O Herege não passou nem perto de sequer entregar uma experiência satisfatória.
Em 1983, William Peter-Blatty lançou Legião, livro que acompanha o policial William Kinderman, um dos personagens mais legais de O Exorcista, na caçada a um serial killer enquanto ainda tenta digerir os eventos que presenciou na casa da família McNeill.
Em 1990, Legião virou filme.
A primeira exigência do estúdio foi usar o descontextualizado título de “O Exorcista III”, ao invés do original “Legião”, buscando apelo comercial.
Entretanto, o título errôneo está muito longe de ser o maior problema da produção, que possui um clímax completamente diferente do material original, enfiando uma cena de exorcismo onde não cabia e forçando referências ao longa original.
Apesar de toda a bagunça, O Exorcista III é um ótimo filme policial, que entrega vários bons momentos de tensão e sutileza. O fato de que o longa foi dirigido pelo próprio William Peter Blatty, que até então nunca havia comandado uma produção cinematográfica, deixa tudo ainda mais impressionante.
Em 2016, pouco antes de falecer, William Peter Blatty conseguiu acesso às fitas originais e lançou seu “Blatty Cut”. Agora intitulado corretamente como “Legion”, o novo corte corrige tudo o que o estúdio interveio no ano do lançamento original, botando em cheque o potencial real do longa.
Psicose (1960)

Um dos melhores filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock só saiu do papel porque o diretor abriu mão do próprio salário (negociou uma porcentagem da bilheteria, escolha que se mostrou devidamente acertada posteriormente) e filmou em preto e branco com uma equipe de série de TV. Todo custo que podia ser cortado, assim o foi. Entretanto, o que não faltou à produção foi ousadia e coragem.
Em 1930 foi criado o Código Hays, que configurava um conjunto de regras que deveriam ser seguidas em concordância com a “moral e os bons costumes”. Algumas das proibições eram o uso do nome de Deus em vão, críticas à religião, e relações amorosas entre negros e brancos. Violência, drogas e outros assuntos sensíveis deveriam ser apresentados com cuidado.
Tais regras foram quebradas inúmeras vezes pelo diretor ao mostrar um casal junto na cama, uma mulher de sutiã e até mesmo uma privada dando descarga, mas a produção não escapou de precisar explicar o final.
Quando Norman Bates está sentado na delegacia lançando à câmera aquele lendário olhar; na sala ao lado um psiquiatra explica aos policiais e à irmã de Marion sobre a condição mental do assassino, esmiuçando cada elemento apresentado ao longo do filme e destruindo qualquer possibilidade de discussão acerca dos eventos. A cena, odiada por Hitchcock, também puxa o ritmo do filme para baixo, destruindo a tensão e praticando uma exposição extremamente óbvia, distante não só do alto padrão do filme, mas da sofisticação de Hitchcock como um todo.
Homem-Aranha 3 (2007)

O capítulo final da trilogia de Sam Raimi (que deixou de ser quadrilogia justamente por causa desse filme) tem como ponto mais criticado o uso desmedido de vilões.
Os 140 minutos não são suficientes para apresentar os três antagonistas, deixando-os extremamente rasos, sem motivação ou personalidade.
Na época, Raimi contou que a Sony o pressionou a fazer um filme “ainda maior” que Homem-Aranha 2, tido por muitos até hoje como melhor filme de heróis já lançado. O desejo de grandiosidade do estúdio obrigou Raimi a inserir, além de inúmeros elementos, Venom, justamente o personagem mais criticado de toda a trilogia, no filme. Obrigado a inseri-lo de última hora, Raimi, que sequer era fã de Eddie Brock ou do simbionte, entregou o resultado bobo que conhecemos.
E aí, conhece algum caso semelhante? Já sabia dessas histórias? Pensa dirente? Me conta!
Não tenho muitas referências de cagadas de estúdios cagando, mas com certeza a do Justice League (já abordado antes) é bem triste.
Fora os estúdios rushando a produção de jogos e quebrando todo o sentido do jogo no final, tipo os Kingdom Hearts da vida que ninguém entende nada por causa do lore extremamente confuso e feito o mais rápido possível pra existir uma sequência.
Espero que acabe no 3 e nunca mais volte sauihsiuahiu