Anunciado em 2019, The Batman chegou aos cinemas em Março de 2022. Sob direção de Matt Reeves, que também assina o roteiro ao lado de Peter Craig; o longa possui um elenco de peso que conta com Jeffrey Wright, Colin Farrell, John Turturro, Andy Serkis, Zöe Kravitz e Peter Sarsgaard; todos extremamente competentes em seus papéis, dividindo a tela com o excepcional Robert Pattinson, que não precisou de esforço algum para calar a boca do nerdola de Facebook que ainda vive em 2010; e é claro, Paul Dano e sua aterrorizante versão do Charada.


Alvo da habitual descrença que passou a assombrar os título da DC depois de uma sucessão de más decisões por parte dos bastards with the money (leia mais sobre isso aqui), a visão de Matt Reeves mostrou seu valor e tem sido extensivamente elogiada por público e crítica.

Mas afinal, este é o melhor filme do Batman? Existe uma abordagem correta para se trabalhar o Homem-Morcego ou filmes de herói no geral?

Essas e várias outras perguntas têm passeado pela minha cabeça nas últimas semanas; portanto, eu gostaria de compartilhar com vocês, e também de lê-los.

Lembrem-se: minhas opiniões não são melhores que as suas.

Vamos começar sem spoilers, ok?

O Batman certo

Dark? Galhofa? Bombadão? Detetive? Qual é a versão certa do Batman? Aliás… existe uma versão certa do Batman?

Não.

Criado por Bill Finger e Bob Kane, Batman fez sua primeira aparição na Detective Comics #27 em Maio de 1939. Ambos os criadores já relataram em inúmeras entrevistas que suas principais influências literárias foram Sherlock Holmes, Doc Savage e O Sombra. Entretanto, o filme The Bat Whispers, de 1930, é a referência visual que mais chama a atenção.

O filme escrito e dirigido por Roland West é praticamente um remake de The Bat, de 1926, que também capitaneado por ele , se trata de uma adaptação da peça teatral homônima de Mary Roberts Rinehart, baseada em seu próprio livro The Circular Staircase. O personagem central do filme teria influenciado a natureza sombria do vigilante e seu modo agir, sempre à noite e se esgueirando nas sombras. Até mesmo uma espécie de Batmóvel o morcego da película possuía. Entretanto, o Bat do filme tratava-se de um ágil e perigoso ladrão. Em 1959, a obra ganhou sua primeira adaptação cinematográfica com som, estrelada por Vincent Price.


Em suas primeiras edições, as histórias do Batman possuíam um tom mais sombrio e detetivesco amplamente baseado nas obras citadas acima, carregado da densa atmosfera Noir presente nas revistas pulp da época. Todavia, a editora optou por suavizar e colorir as aventuras de Bruce Wayne a fim de torná-las mais amigáveis a todas as idades. Inclusive, Robin foi um dos artifícios criados para tal finalidade, bem como os códigos de conduta da não-letalidade. Mesmo assim, anos mais tarde, o Batman seria um dos alvos do psiquiatra alemão Frederic Wertham, que em seu livro Sedução do Inocente, alegava que histórias em quadrinhos poderiam ser prejudiciais aos jovens devido à natureza dos temas abordados.

No caso específico do Homem-Morcego, além da violência ele ainda concluía que Batman e Robin mantinham um relacionamento homossexual e apresentava isso aos pais como uma ameaça. Tais alegações levaram à criação do Comic Code Authority, uma série de lista de regras a serem obedecidas na criação das HQ’s, semelhante ao Código Hays do cinema.


Em 2012, Carol Tilley, PhD em Ciência da Informação pela Universidade de Indiana, concluiu após um estudo de dois anos que entrevistas e diversos outros resultados da pesquisa de Frederic foram adulterados pelo mesmo.

Nas Telas Pela Primeira Vez

Em 1943, o Homem-Morcego chegou aos cinemas em uma série estrelada por Lewis Wilson. Ao longo de 15 episódios de qualidade questionável devido ao baixo orçamento por conta da guerra (que estimulou criação de um vilão japonês chamado Dr. Daka, inexistente nas HQ’s), desenvolveram-se conceitos que até hoje fazem parte da mitologia do personagem, como a Batcaverna. Na adaptação, Bruce Wayne não é um vigilante independente, mas sim um agente do governo estadunidense; tudo para que a obra se adequasse às leis de censura da época.

Batman (1943) hoje em dia com certeza soa totalmente ultrapassada e caricata, mas segue o estilo de narrativa das séries de TV daquela década e ainda é um produto de seu tempo. Vale uma espiadinha, só pela curiosidade.

Santa Galhofa, Batman!

Em 1966, a ABC lançou a famosa série de TV que deu origem ao clássico Feira da Fruta. Ao longo de 120 episódios distribuídos em 3 temporadas, Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin) protagonizaram histórias bem-humoradas que ainda contavam com vários outros personagens que conhecemos: Mulher-Gato, Batgirl, Charada, Pinguim (interpretado por Burgess Meredith, o Mickey de Rocky), o Coringa de Cesar Romero, que se recusou a raspar o bigode que pode ser visto sob a maquiagem branca; e é claro, Harriet Cooper, a tia do Batman.


O tom da série é totalmente voltado à comédia, incluindo cenas de dança, poses vilanescas extremamente caricatas, todos os bordões do Robin, e ensinamentos destinados aos pré-adolescentes como a importância do uso do cinto de segurança e da ingestão de vegetais, algo muito semelhante ao que o He-Man fazia nas manhãs da Globo. É impossível não enxergar inúmeros paralelos com o Chapolin Colorado, criado por Roberto Gomez Bolaños em 1973.

Além das três temporadas, em 1966 foi produzido um longa-metragem que servia de vitrine internacional para o seriado.

Nos anos anteriores a exibição do seriado, as histórias em quadrinhos não iam bem. Bob Kane chegou a comentar que o personagem seria finalizado em algum momento. Julius Schwartz foi então designado como editor das revistas, buscando trabalhar uma versão mais moderna do Batman. O brasão de morcego com fundo amarelo, por exemplo, surgiu nesta época. Aliada ao novo rumo editorial, a série de TV foi grande responsável pela retomada das vendas.

No início dos anos 1970, Neal Adams e Dennis O’Neil iniciaram um movimento de retomada das origens do Batman, tomando como base as próprias histórias de Bill Finger e Bob Kane, em um trabalho de observação e interpretação de onde a dupla queria levar o personagem. Steve Englehart e Marshall Rogers também foram peças fundamentais na jornada.

Gradativamente, isso culminou em um declínio exponencial de vendas que foi até 1986, quando… você sabe o que aconteceu, né?

Não?

Te conto semana que vem.