O Oscar 2025 já chegou e muita gente tem investido tempo em assistir aos dez longas indicados à principal categoria da premiação. Para nós brasileiros, há ainda um estímulo extra, pois é a primeira vez que uma produção 100% brasileira concorre ao maior prêmio da noite.
Sendo assim, a lista abaixo sugere filmes indicados a outras categorias, mas que não configuram entre a dezena mais visada. Também ficam de fora obras que aparecerão por aqui em textos futuros como Nosferatu ou Alien: Romulus.
A ordem também não configura nenhuma preferência, é só a sequência na qual eles foram assistidos.
A Verdadeira Dor
Concorre: Melhor Ator Coadjuvante (Kieran Culkin), Melhor Roteiro Original
Após alguns anos separados, dois primos se reconectam para viajar à Polônia como forma de se recordar da avó que, sobrevivente do holocausto, falecera recentemente.
A personalidade expansiva de Benji (Culkin) contrasta com o comedimento de David (Jesse Eisenberg), provocando uma miríade de reações por parte do guia turístico e de seus colegas de viagem durante a visita. O filme explora como reagimos às adversidades e externamos (ou não) a dor e outros sentimentos, além de autoimagem e sabotagem. Com uma atuação instigante, Culkin definitivamente merece a indicação, embora seu personagem seja muito mais protagonista que coadjuvante, mas sabemos como funcionam as estratégias da premiação.

Sing Sing
Concorre: Melhor Ator (Colman Domingo), Melhor Canção Original (Like a Bird).
Baseado em uma história real, Sing Sing narra a trajetória de John “Divine G” Whitfield, brilhantemente interpretado por Domingo, e seus colegas de cárcere, que participam de um programa de Reabilitação Através das Artes e compõem um grupo de teatro.
Além da excelente Like a Bird, canção original composta e interpretada por Abraham Alexander e Adrian Quesada, o longa traz uma mensagem de esperança tangível, diferente dos discursos falsos e mentirosos que inundam as redes sociais na última década.
Além da importância da arte, da amizade e do diálogo, Sing Sing mostra que em diversas situações, líderes também precisam de ajuda.

O Aprendiz
Concorre: Melhor Ator (Sebatian Stan), Melhor Ator Coadjuvante (Jeremy Strong)
Alvo de polêmicas e recusado por diversos idealizadores e distribuidoras, O Aprendiz mostra o início da carreira de Donald Trump no ramo imobiliário de Nova York e como seu império foi construído com a ajuda de seu mentor, o advogado Roy Cohn.
Frenético, o longa se desenvolve durante as décadas de 1970 e 1980 com uma estética que muitas vezes remete à televisão daqueles dias e até mesmo a documentários e imagética de fitas cassete. Alegadamente baseado em relatos de pessoas próximas e até mesmo de Ivana Trump, primeira esposa do atual presidente dos Estados Unidos, O Aprendiz é repleto de polêmicas e veemente rechaçado pelo Donald Trump da vida real.
A representação de Stan do bilionário é provocativa e revoltante, mas galgada na realidade e fazendo o uso de imagens reais, com certeza vai confundir motoristas de Celta que, certos de sua ascensão, tomarão críticas por elogios. Jeremy Strong não fica atrás e faz um trabalho estupendo como Roy Cohn.

Um Homem Diferente
Concorre: Melhor Maquiagem
Dose dupla de Sebastian Stan debulhando tudo? Sim!
Em A Different Man, Stan interpreta Edward, um ator que encara as duras batalhas do início de carreira e que possui um diagnóstico de neurofibromatose, condição que pode ocasionar o desenvolvimento de tumores ao longo do corpo e até mesmo perda de visão e audição.
Instigado pelo desconforto e preconceito, ele se oferece como cobaia de um tratamento experimental que acaba por transformá-lo completamente, lhe encorajando a desenvolver uma vida social mais expansiva. Entretanto, o homem diferente que Edward se torna pode não ser a solução para os problemas que ele acreditava ter.
A Different Man aborda não só a autoestima ou a autoimagem físicas, mas tudo o que faz de nós, nós. Frequentemente, buscamos nos livrar do que consideramos fardos por pressão social, mas acabamos nos livrando de nós mesmos em um processo doloroso e muitas vezes sem volta, que nos afasta justamente daquilo que queremos.

Semente do Fruto Sagrado
Concorre: Melhor Filme Estrangeiro
Sim, amigos! O filme hipotético iraniano mudo, de três horas e em preto e branco é real!
Tá, quase isso… Ele tem 2h45, e não é mudo… Tampouco em preto e branco, mas sem dúvidas é um ótimo filme. Dirigido e rodado clandestinamente por Mohammad Rasoulof, que foi condenado a oito anos de prisão pelas autoridades iranianas, o longa tem início quando Iman (Misagh Zare) é promovido a juiz de instrução do governo e acredita que com isso, poderá prover uma vida melhor para sua família.
Entretanto, crescentes protestos nas ruas após uma mulher ser morta ao receber voz de prisão por não estar trajando véu geram tensões entre pai, esposa e filhas, que passam a contestar informações oficiais de órgãos públicos e da mídia à medida que suas amigas e colegas de escola e faculdade se envolvem com os conflitos.
Perdido entre noções próprias de proteção e opressão, Iman desmorona em uma paranóia crescente quando sua arma desaparece, tornando-se cada vez mais imprevisível e desconfiado.
Um dos grandes méritos de Semente do Fruto Sagrado, sem dúvidas, é o retrato sobre como o fanatismo pode abalar os mais estreitos laços interpessoais.

A Garota da Agulha
Concorre: Melhor Filme Estrangeiro
Este sim, em preto e branco, é dirigido por Magnus Von Horn e conta a história de Karoline (Victoria Carmen Sonne), que perde o marido na Primeira Guerra Mundial e, pouco depois, o emprego. Grávida e desamparada, ela conhece Dagmar (Trine Dyrholm), uma intermediadora de adoções ilegais que acaba lhe oferecendo alguma ajuda.
Com uma bela fotografia que se utiliza do contraste para criar aflição e até mesmo medo, A Garota da Agulha traz atuações estupendas por parte das duas protagonistas, cuja câmera faz questão de capturar em tomadas longas e closes intimidadores, além de temas bastante pesados e reais, impulsionando discussões acerca de valores versus ações num atroz capitalismo pós-guerra.

Robô Selvagem
Concorre: Melhor Animação Longa Metragem
Rozzum 7134, um robô utilitário, acaba naufragando em uma ilha deserta. Utilizando-se de suas capacidades de observação e assimilação, Rozzum passa a se adaptar ao ambiente e a tentar exercer suas funções junto dos animais que habitam a ilha.
Com enredo dinâmico e atenção aos detalhes, Robô Selvagem desenvolve tópicos esperados, como a ausência de sentimentos em robôs e a necessidade de trabalho em equipe, mas vale destacar também diversos paralelos da empreitada de Rozzum com a maternidade.

Flow
Concorre: Melhor Animação Longa Metragem, Melhor Filme Estrangeiro
A inspiradora animação da Letônia acompanha um gato que precisa se aliar a outros animais para sobreviver a um dilúvio e migrar até um lugar seguro. Sem diálogo algum, Flow consegue nos apresentar as personagens e definir bem suas características numa história sobre coragem, companheirismo e transposição de diferenças.
O estilo de animação que transita entre o realismo e o cartunesco é bastante colorido e detalhado, o que permite o desenvolvimento de situações com certa dose de fantasia, mas também apresenta comportamentos animais que reconhecemos no nosso dia a dia.

No Other Land
Concorre: Melhor Documentário Longa Metragem
Através do olhar de Basel Adra, um palestino morador de Masafer Yatta, região no sul da Cisjordânia, testemunhamos a ocupação do exército israelense, que destrói casas, escolas e plantações enquanto expulsa famílias violentamente.
Yuval Abraham, jornalista israelense, se mostra um aliado e enfrenta a opinião pública de seus conterrâneos, firmando com Basel uma amizade que põe em pauta a vida nos dois lados do conflito.

Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado
Concorre: Melhor Documentário Longa Metragem
Idealizado por Johan Grimonprez, Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado recorda a revolta de lendas do jazz como Max Roach e Abbey Lincoln ao presenciar o assassinato de Patrick Lumumba, primeiro presidente eleito democraticamente no Congo, que acabara de se tornar independiente de Bélgica em 1960.
Construído com filmagens e arquivos de áudio da época, o longa expõe como a OTAN e a ONU abordaram o caso e permeia a relação de inúmeros artistas da época com a contenda, usando a música como recurso narrativo.
Vale salientar que a montagem do filme pode ser caótica e bastante confusa para quem não é familiarizado com o tema, portanto, uma pesquisa preliminar sobre o assunto com certeza tornará a experiência mais efetiva.

Setembro 5
Concorre: Melhor Roteiro Original
O longa de Tim Fehlbaum se passa entre os dias 5 e 6 de Setembro de 1972 durante as Olimpíadas de Munique, onde 11 atletas israelenses foram capturados por agentes palestinos dentro da Vila Olímpica.
Em seus pouco mais de 90 minutos de duração, acompanhamos a equipe de jornalismo esportivo da ABC na agoniante cobertura do caso, assistida por mais de 900 milhões de pessoas pela primeira vez numa transmissão em cores que visava revitalizar a imagem da Alemanha perante o mundo pós-guerra.
Técnica e ética jornalística são discutidas dentro da claustrofóbica redação com grandes atuações de Peter Sarsgaard (A Órfã), John Magaro (do tocante Vidas Passadas) e Leonie Benesch (A Sala dos Professores). Uma ótima obra para entusiastas do jornalismo e curiosos sobre como eram realizadas as grandes coberturas televisivas da época.

A Lien
Concorre: Melhor Curta Metragem
Oscar responde uma convocação do governo dos Estados Unidos para dar início ao seu processo de cidadania. Acompanhado de sua esposa Sophia e sua filha Nina, ele acaba sendo vítima da renovada e exacerbada política contra imigrantes.
Com menos de 15 minutos de duração, o filme nos mostra como uma vida construída ao longo dos anos pode ser interrompida tão abruptamente.

The Man Who Could Not Remain Silent
Concorre: Melhor Curta Metragem
Os 13 minutos do curta croata são suficientes para surpreender e provocar reflexões sobre como reagimos diante de situações ameaçadoras.
Em 1993, um trem é interceptado na Bósnia para que paramilitares o inspecionem em busca de muçulmanos, e o espectador divide a tensão da situação com outros viajantes na cabine.

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Além destes textos sobre cinema, música, games, literatura e etc., também escrevo ficção. Conheça meus contos aqui:
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Obrigado pelo seu tempo, paciência e atenção.