Depois de cobrirmos boa parte da vida do Morcego da DC na Parte I, vamos falar agora sobre tudo o que aconteceu depois e tornou possível a realização de The Batman, que estreou na semana passada na HBO Max e acabou de ter sua continuação confirmada pela Warner.
É muita coisa, né? É… é muita coisa! Mas vocês sabem que quando é um assunto que eu gosto (mas não necessariamente domino), eu não paro mais de falar.
De Volta às Origens
Em 1968, com o fim da série televisiva, as vendas de gibi voltaram a cair. Foi então que Dennis O’Neil e Neal Adams deram início a um trabalho de retomada das origens mais sérias do vigilante, afastando-o da aura cômica e infantil.
Nas décadas seguintes, alguns trabalhos foram primordiais para a consolidação do Batman do cinema que conhecemos hoje: em 1986, Frank Miller (sob edição de O’Neil) consolidou a volta da estética sombria em O Cavaleiro das Trevas (já parou pra pensar que isso saiu no mesmo ano de Watchmen?!) e recriou sua origem um ano depois em Batman: Ano Um. Em 1988, foi a vez do Mestre Absoluto Alan Moore narrar a origem do vilão Coringa sob a mesma ótica obscura em A Piada Mortal. Já em 1989, Grant Morrison lançou o excelente Asilo Arkham: Uma Séria Casa em um Sério Mundo, com ilustrações do lendário Dave McKean, que tratou de contrapor o Batman derrotado e radical proposto por Miller em sua obra principal, guiando o herói através de uma aventura macabra e um profundo e excruciante confronto interior. Os anos seguintes de Morrison no comando do morcego substanciariam a abordagem do vigilante frio e estrategista que conhecemos hoje, deixando a agressividade de lado e estabelecendo um Bruce Wayne mais benigno.
A obra de Frank Miller despertou nos executivos da Warner Bros. a percepção de que o personagem poderia voltar a ser explorado no cinema, e foi então que em busca de dar continuidade à nova velha abordagem, foram contratados Sam Hamm para o roteiro e Tim Burton para a direção. No entanto, o projeto permaneceu paralisado por dois anos até ser finalmente autorizado após o sucesso de Os Fantasmas Se Divertem (1988).

O Returno Triunfal às Telonas
Carregado da característica fantasia sombria de Tim Burton, Batman chegou aos cinemas em Outubro de 1989 com Michael Keaton no papel principal, Jack Nicholson como Coringa em uma das suas atuações mais memoráveis e Kim Bessinger como Vicki Vale.
Sucesso de público e crítica, o longa possui muitos dos elementos caricatos das histórias em quadrinhos clássicas, mas também traz uma certa verossimilhança que ia muito além até daquela oferecida pelo Superman de Richard Donner uma década antes. Não se tratava apenas de efeitos especiais ou trajes críveis, mas o Batman de Tim Burton parecia mais inserível no mundo real e atual como um todo. Muitos fãs dos quadrinhos que viviam a adolescência na época, relatam ter assistido múltiplas sessões do filme em sequência e pensado “Agora sim! Era isso que eu queria ver!”.
Os anos seguintes trouxeram Batman Returns (1992) sob a batuta da mesma equipe criativa. Já Batman Forever (1995) e Batman & Robin (1997), ambos dirigidos Joel Schumacher e escritos por Akiva Goldsman, revitalizaram parte da galhofa vista na década de 1960 e chegou até mesmo a exibir os infâmes Bat Credit Cards. O primeiro foi protagonizado por Val Kilmer, enquanto que o segundo trouxe George Clooney no papel principal. Clooney contou em uma entrevista, anos mais tarde, que mantém uma foto de si mesmo vestido de Batman em seu escritório para lembrá-lo de que nem toda proposta que parece boa deve ser topada sem ponderação. No meio disso tudo, ainda houve tempo para a incrível série animada da Fox, que brindava uma frequentemente esquecida ótima atuação de Mark Hamill, o Luke Skywalker, como Coringa.

Em 2005, a trilogia Nolan teve início com Batman Begins (2005) em meio ao boom de filmes de super-heróis inaugurado com X-Men (2000). Sob o leque criativo de Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer (cujo nome aparece em uma extensa lista de adaptações de HQ’s), Christian Bale deu vida a uma versão cinematográfica do Batman ainda mais galgada no realismo, com histórias dinâmicas e complexas que envolviam um maior número de personagens, política e eventos simultâneos. A inesquecível atuação de Heath Ledger como Coringa se deu em 2008, na segunda parte da saga, intitulada de The Dark Knight. Em 2012, coube a The Dark Knight Rises encerrar a trilogia de maneira satisfatória, mas não tão brilhante quanto seus dois primeiros capítulos.
Como a Parte III deste texto é inteiramente reservada ao longa de Matt Reeves, gostaria de encerrar este capítulo encorajando todos a revisitarem estes filmes de alguma forma e a compararem as tantas versões do morcego da DC Comics. Cada abordagem conversa com um público diferente, em uma época diferente, num mundo diferente. Quadrinhos, animações, filmes, videogames; todos podem trazer uma mescla de elementos que agradarão mais a mim ou a você, e está tudo bem. O mundo muda, a arte o acompanha; e não, a infância de ninguém vai ser destruída só porque a nova versão diverge daquela guardada no coração desde a primeira ida ao cinema. Bill Finger já havia falecido há mais de 10 anos quando O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller chegou às prateleiras. Será que ele aprovaria o Batman considerado por muitos como definitivo até hoje?

Um personagem tão célebre e prestes a completar 85 anos de história, com certeza pode inspirar pessoas que ainda sequer nasceram a ilustrarem suas visões, abordando temas sociais, políticos, familiares; ou até mesmo religiosos ou mitológicos. Tudo é possível em uma história bem conduzida.
Compreendo que diversas características podem ser tão emblemáticas a ponto de se tornarem praticamente inseparáveis de seus detentores, sendo ingrediente vital para a existência do personagem; entretanto, mundos e acontecimentos não são binários. É possível duas ideias distintas e igualmente boas, dividirem o mesmo ponto de partida. Exemplos disso não faltam.
E a sua versão favorita, qual é?