Em menos de 24 horas, a Konami lançou um Silent Hill muito bom e Sir Lewis Hamilton confirmou que pilotará pela Ferrari em 2025. As estruturas do nosso planeta certamente não sairão ilesas de tamanha confluência de eventos inesperados. 2024 mal começou e já temos surpresas que vão gerar assunto pelo resto do ano inteiro.

Enquanto nos corroemos de curiosidade para ver o piloto britânico vestindo vermelho, tivemos a oportunidade de conferir no State of Play do dia 31 de Janeiro de 2024, uma seleção de novidades da Sony para o Playstation em 2024, que incluíram quase 10 minutos de Death Stranding 2 e a primeira atualização sobre o polêmico e divisivo remake de Silent Hill 2 desde Outubro de 2022, quando foi apresentado ao mundo junto de muitas outras novidades para a franquia de terror que não ganhava um novo episódio em sua série principal desde 2012.

A surpresa para os fãs, entretanto, se deu pelo fato de que o previamente anunciado Silent Hill: The Short Message estaria disponível para download gratuito para os donos do Playstation 5 assim que o evento terminasse.


É bom mesmo?

Sim, e muito!

Silent Hill: The Short Message nos coloca na pele de Anita, uma jovem que vai até um condomínio abandonado em alguma parte da Alemanha em busca de Maya, sua amiga desaparecida.

Totalmente em primeira pessoa e com cenários bastante bonitos, detalhados e por vezes repugnantes e claustrofóbicos, o game aborda temas sensíveis como suicídio, bullying, automutilação e abuso. O uso da luz, do som, da emblemática neblina e das obras de arte que integram a narrativa possuem mensagens sólidas e estimulam uma investigação que enriquece a experiência e livra o game da tendenciosa classificação de walking simulator por pouco se interagir com itens, ameaças ou puzzles. Livros, revistas e diários espalhados pelos ambientes também somam à história e dão profundidade às personagens, esclarecendo seus medos, motivações e inúmeras outras questões. O maior ponto negativo na parte técnica talvez seja a escancarada falta de sincronia labial nas cenas em live-action quando não se opta pelas vozes originais em japonês. O tratamento de imagem e áudio nessas horas, porém, disfarçam o contratempo técnico com um ar etéreo.

Com extenso uso de telefones celulares e menções ao comportamento dos jovens em redes sociais e suas consequências, The Short Message se mostra engajado em temas e tendências atuais, embora a falta de sutileza de alguns momentos os façam contrastar demais com as partes mais intensas. As cenas de ação são esporádicas, e construídas com consciência para que não se tornassem repetitivas ou muito frustrantes.

Foto: Reprodução

Encarregado de ser a primeira empreitada dessa nova série de jogos da franquia Silent Hill, The Short Message com certeza não só faz os apreciadores respirarem aliviados, como dá alguma esperança em relação aos futuros lançamentos e serve de porta de entrada para novos jogadores. Assim como Masahiro Ito, designer de criaturas e diretor de arte em Silent Hill 2 e 3, o lendário compositor Akira Yamaoka está de volta e entrega uma trilha singela e discreta, mas que complementa intrinsecamente o game. É curioso, entretanto, notar a volta que a trama dá para conseguir batizar o jogo como um Silent Hill, remetendo a o que a Warner fez com Coringa, de 2019, que transborda indícios de ter sido concebido como um drama sobre um homem que vive à margem da sociedade devido a diversas condições e foi repentinamente transportado de Nova Iorque para Gotham City numa estratégia mercadológica que alçou o filme ao seleto grupo dos Bilhões em bilheteria e garantiu uma sequência.

Por outro lado, Silent Hill está completando 25 anos, ostentando sete capítulos na história principal e inúmeros spin-offs. Muitas pessoas que cresceram junto dos primeiros games e os jogaram sem que realmente devessem tê-lo feito assim como este que vos escreve, podem muito bem trabalhar na área atualmente. Ito e Yamaoka com certeza também não são mais os mesmos de 20 anos atrás.

The Short Message nos intima a olhar para dentro de nós mesmos, digerir as consequências de nossas ações, revisitar o que sofremos no passado e encarar fantasmas e demônios interiores, algo que sempre foi um ponto forte da franquia. Moldar-se à realidade, atualizar conceitos e libertar os games do padrão que consistia em vagar pela cidade, entrar em uma dungeon, transpor seus desafios e repetir tudo outra vez pode revitalizar a franquia, abrir possibilidades e torná-la assunto do momento novamente; por isso, vale a pena aguardar, jogar, e estar disposto a ir aonde as ruas de Silent Hill nos levarão nos próximos anos.